quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O meu paraíso é onde estou!


Esses dias estive escutando o Teatro Mágico e, cada vez que eu escuto as músicas deles, fico impressionada com o valor que as letras têm. A musicalidade, a poesia, o ritmo, a letra, os detalhes, as cifras, a preocupação com simples olhar que se passa despercebido no decorrer  dos nossos dias, dos nossos afazeres, rotinas... 
Cidadão de papelão
"O cara que catava papelão pediu
Um pingado quente, em maus lençóis, nem voz
Nem terno, nem tampouco ternura
À margem de toda rua, sem identificação, sei não
Um homem de pedra, de pó, de pé no chão
De pé na cova, sem vocação, sem convicção

À margem de toda candura
À margem de toda candura
À margem de toda candura

Um cara, um papo, um sopapo, um papelão
Cria a dor, cria e atura
Cria a dor, cria e atura
Cria a dor, cria e atura

O cara que catava papelão pediu
Um pingado quente, em maus lençóis, à sós
Nem farda, nem tampouco fartura
Sem papel, sem assinatura
Se reciclando vai, se vai

À margem de toda candura
À margem de toda candura

Homem de pedra, de pó, de pé no chão
Não habita, se habitua
Não habita, se habitua"











Hoje eu estava indo trabalhar e enquanto esperava o ônibus um rapaz, todo sujo, com a roupa esfarrapada e tal, um mendigo, veio pra perto de mim... Eu logo fiquei toda desconfiada, olhando de lado. E aí de repente ele saiu de perto de mim e voltou - eu ainda estava meio desconfortada - ele olhou pra mim e disse "moça, precisa ter medo não! Vim aqui só pra te entregar isso..." e me deu uma flor!
Juro que na hora tive vontade de chorar, mas de raiva de mim mesma. E aí fiquei me perguntando... "se fosse um cara bem vestido que tivesse do meu lado, será que eu ficaria desconfiada da mesma forma que fiquei com esse mendigo??"
E pra quem pensa que a vida não é boa, pense: "O meu paraíso é onde estou". Às vezes isso acontece por falta de opção! 

"Não espere coerência,

O bom e o belo.
Não espere perfeição,
Nem escrita única
Com frases perfeitas.

[...]
Cada estilo a sem momento,

Cada história em seu estilo.
Assim há de encontrar
A coerência,
O bom e o belo,
E a perfeição de um relato autêntico."

Autora: Bia Areias

Livro: Sexo sem amarras

Só pra refletir! 
Boa noite!


4 comentários:

  1. Cara... que pelica!

    Realmente, "só pra refletir"... Falar nada não.

    Abraço tavareano (só posso estar...)

    ResponderExcluir
  2. A única coisa que tenho a dizer é: olhe mais para o interno e menos para o externo! Acho que isso foi um lembrete! :*

    ResponderExcluir
  3. Meu paraíso é onde estou. Interessante o título, não sei porquê lembrei de uma colocação do Sartre: "o inferno são os outros". O inferno são os outros e o paraíso é onde estou. Hum...
    A cena mencionada em seu texto, que aconteceu contigo, é uma cena comum da nossa sociedade. Somos condicionados a ter medo do que está diferente (seja uma ideia, uma pessoa). O diferente gera medo por ser... Diferente!
    Essa cena, de tão "normal" posso dizer, nem precisaria de sua descrição para que pudéssemos imaginá-la. Bastaria você dizer:

    "Hoje, enquanto esperava o ônibus, um rapaz, todo sujo, veio pra perto de mim... Eu logo fiquei desconfiada"

    Resume bem as tantas outras cenas iguais que não são de uma mesma cidade, mas de quase todas. Talvez porque aprendemos a nunca esperar rosas de mãos sujas. No entanto, para plantarmos as rosas, muitas vezes temos que sujar as mãos...

    Lembrei também da música do Gabriel O Pensador, "Racismo é Burrice":

    "Pagamos homens que pensam que ser humilhado não dói
    O preconceito é uma coisa sem sentido
    [...]
    Muitos negros roubam, mas muitos são roubados
    E cuidado com esse branco aí parado do seu lado"

    Imaginemos agora a seguinte cena:

    "Hoje eu estava indo trabalhar e enquanto esperava o ônibus uma moça, toda fina, com a roupa arrumada e tal, uma burguesinha, veio pra perto de mim... Eu logo fiquei todo desconfiado, olhando de lado. E aí de repente ela saiu de perto de mim e voltou - eu ainda estava meio desconfortado - ela olhou pra mim e disse "moço, precisa ter medo não! Vim aqui só pra te entregar isso..." e me deu uma flor!"

    Inimaginável, porque não acontece. Não oferecemos rosas a pessoas sujas (e ainda mais desconhecidos! Na verdade, nem aos conhecidos!!). Preferimos aumentar seu estoque de olhares desconfiados e pensamentos avulsos. Cultivamos essa imagem culturalmente construída por poucos que trabalham com terno ou tamanco a muitos que trabalham com camisa rasgada ou chinelo.
    A estratificação social (ou apenas o abismo social) ainda interfere em muito na forma como enxergamos e pensamos a sociedade. Como olhamos a nós mesmos: o outro que não somos.

    Ps.: Essa imagem que você colocou, é sua? Ficou bem legal.

    ResponderExcluir

E aí, o que você divaga sobre isso?