sexta-feira, 21 de junho de 2013

Dicas de livros da Rô: O que é adolescência?

Este é para os que gostam de estudar e entender um pouco mais o mundo do adolescente. Escrito por Daniel Becker, pediatra especializado na adolescência, o livro "O que é adolescência?" procura passar uma forma integrada de ver a adolescência, mostrando os conceitos de diversos autores ao longo do texto, e pensando-a como um fenômeno e não apenas como uma fase de crise.

Inicialmente o autor traz o conceito original de adolescência, do latim crescer para, e informa que a adolescência é um fenômeno antigo, mas com o conceito que conhecemos hoje é relativamente recente, sendo uma fase que a sociedade criou para englobar e tratar as pessoas que poderiam mudar suas estruturas, ou seja, causar problemas a ordem dominante.

O autor sugere que devemos olhar a adolescência como um período de questionamentos e mudanças que irão transformar a pessoa que a está vivendo e a sociedade em que está inserida. Começando pelas mudanças biológicas, tais como mudança corporal, taxas elevadas de alguns hormônios, maturação do poder de abstração do cérebro, entre outras, o autor nos leva pela metamorfose, como ele chama, que o adolescente passa durante o período que biologicamente chamamos de puberdade. E com essas mudanças o início da definição daquela criança como adulta. 

Uma das maneiras do ser humano se definir é justamente pelo seu corpo, como o adolescente pode então ter uma definição do que ele é, se a cada dia o seu corpo está diferente? Com esse questionamento, de “quem eu sou?” é que o adolescente é chamado para se inserir no mundo adulto, mas para ser bem aceito neste mundo, ele precisa já estar bem definido. Por conta dessa pressão em torno de uma definição do seu eu, é que o adolescente questiona este mundo adulto, onde se pede que ele seja coerente, quando não existe, nem nas atitudes ditas adultas, uma coerência.

Na incoerência que existe entre o que pode ou não fazer é que ele é constituído. É nesta incoerência que ele aprende sobre sexo, drogas, casamento, filhos, família, amigos, trabalho, realidade; é quando pendem que ele tome uma atitude frente à família, que escolha carreira e como vai ser sua vida. Com tanta pressão pra que o adolescente diga logo “a que veio”, como é que querem que ele não questione? Que ele não tente encontrar um sentido nesta incoerência?

Assim, vendo a adolescência como um fenômeno inquisitório é que se pode explicar os adultos adolescentes ou as crises tardias da adolescência. E explicar também o fato de que algumas sociedades não possuem a fase da adolescência por estarem inseridas num contexto mais coerente. 

O autor sugere, então, que em vez de nos concentrarmos nas crises típicas da adolescência, que olhemos para nossa sociedade e procuremos os erros que cometemos as nossas crianças e adolescentes, porque nesses erros estarão as crises que o adolescente irá vivenciar.

Para quem gosta, este é uma boa pedida!

* BECKER, Daniel. O que é adolescência. 5° reimpr. da 13° ed. De 1994; São Paulo: Brasiliense,2003. (Coleção primeiros passos;159) 98 pág.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Dicas de livros da Rô: Mulheres que amam demais

"Mulheres que amam demais" é um livro escrito pela psicóloga e conselheira conjugal Robin Norwood. A autora é especializada no tratamento de padrões mórbidos de relacionamentos e no tratamento de viciados em álcool e drogas. O livro foi baseado em sua própria experiência e em milhares de entrevistas com viciados e suas famílias.

No prefácio, Norwood faz um resumo sobre o fenômeno que ela chama de "amar demais". Pouco a pouco ela caracteriza as atitudes que o perfazem e prepara o leitor para os próximos capítulos e convidando-o a examinar as suas próprias atitudes também.

Norwood sempre começa seus capítulos com um trecho de poesia e ilustrando o título do capítulo com uma história de pacientes suas, no primeiro capítulo, ela leva o leitor a reconhecer que as atitudes de mulheres que amam demais são fáceis de serem percebidas em nossa sociedade, e que são maneiras de tratar o relacionamento ditas como normais. Ela conta também que esses padrões de comportamentos normalmente são gerados em famílias desajustadas, onde as crianças dessas famílias crescem levando para os seus relacionamentos a mesma dinâmica, o mesmo papel, que elas faziam, tornando, então, o fenômeno um ciclo vicioso. Ela lista também os principais padrões de comportamento que ela identificou como sendo de mulheres que amam demais, e aprofunda-os explicando-os distintamente.

No segundo capítulo, ela fala sobre as mulheres que usam o sexo para tentar amar o seu parceiro saudavelmente, enquanto no dia a dia, elas se martirizam em seus relacionamentos doentios. Ela novamente lista, o comportamento e características dessas mulheres em seus relacionamentos sexuais e faz uma distinção entre as formas de amar. Ela conta como a excitação, e as emoções vindas do sexo sem intimidade camuflam os aspectos negativos do relacionamento e o próprio medo dessas mulheres de se verem íntimas de um homem que possam amá-las de uma forma mais saudável. 

O terceiro capítulo traz as co-alcoólatras com a sua forma de sofrer por amor. Ele demonstra como essas mulheres para se sentirem amadas precisam sofrer. Sofrer por seus companheiros suportando toda a vergonha e os mal-tratos que eles fazem, ajudando-os assim a não saírem de seu alcoolismo e elas mesmas a perpetuar o seu próprio comportamento. A autora fala sobre como esses vícios distrai essas mulheres de seu próprio vazio e dor interior, e que para elas possam se recuperar elas precisam aprender a enfrentar seus medos e aprender a viver tendo em suas próprias mãos as chaves da sua felicidade, ou seja, que só elas amando a si mesma, poderão ser amadas por outras pessoas.

O quarto capítulo, fala sobre a necessidade que essas mulheres têm de se sentirem necessárias e de como esse comportamento tem haver com a culpa. De como as mulheres que amam demais se sentem culpadas pelos fatos que ocorreram em suas infâncias, e para redimir essa culpa, elas precisam recriar o mesmo nível de comportamento que tinham na infância, numa tentativa, assim digamos, de mudar o passado Em sua infância, elas aprenderam que para serem amadas, para estarem seguras, elas precisam ter o controle.

O quinto capítulo leva a conhecer como essas mulheres conseguem achar os homens que vão se relacionar com elas de forma a preservar os seus padrões de relacionamento. Normalmente, os homens que as amariam de forma saudável não produzem atração sobre essas mulheres, elas precisam e elas procuram alguém a que possam salvar por seu amor, ele traz vários casos de mulheres exemplificando as formas de relacionamento, mostrando como se dá essa atração.

No sexto capítulo, a autora leva a conhecer o ponto de vista dos homens que vivem com mulheres que amam demais. Ela novamente exemplifica o capítulo com histórias desses homens, explicando no final de cada história a atração deles. Ela leva a concluir que os homens que se deixam amar por essas mulheres, precisam de uma mulher forte, que recompensará o que falta nele.

O sétimo capítulo aborda como a mídia e nossa cultura valoriza essa forma de amar doentia, e revela ao leitor uma nova forma de entender o conto de A Bela e a Fera. E volta novamente a falar sobre a dinâmica das crianças em lares desajustados, como essas crianças negam sua realidade e como reagem a ela. Novamente a autora faz distinção entre três formas das crianças enfrentarem essa realidade e como essas crianças quando crescem continuam a negar a sua realidade, inclusive a realidade de seus relacionamentos. Aqui é onde ela exemplifica com as histórias a perpetuação dos papeis desenvolvidos na infância e que a maneira de amar saudavelmente começa com a aceitação. As mulheres que amam demais, elas não aceitam o parceiro como ele é, elas precisam que eles se modifiquem por amor. Elas precisam modificá-los.

No oitavo capítulo o fenômeno amar demais é caracterizado como um vício. O vício num relacionamento doentio é usado para afastar da consciência o fato da dor e solidão que essas mulheres sentem. E que esse vício também se entrelaça com outros vícios, como o do alcoolismo, o de comer demais, e de drogas.

O Nono capítulo conta sobre o fundo do poço e o começo da recuperação. Para essas mulheres melhorarem, elas precisam perceber que as atitudes delas são de um processo doentio, uma autodestruição, fala também que só a terapia pode não ajudar muito, mas que um grupo de apoio, com outras mulheres que sofrem do mesmo problema e a terapia, ajuda a perceber que elas não são as únicas e que realmente elas possuem um problema. O capítulo traz ainda um quadro comparativo entre os alcoólatras e as mulheres que amam demais em fase doentia e de recuperação.

O décimo capítulo traz os passos para a recuperação, explicando cada um dos dez passos sugeridos pela autora, funcionando quase como os passos dos alcoólatras anônimos. Ele mostra o significado das atitudes, o que elas requerem para procurar ajudar, o porquê dessa ajuda, e o quê procurar ajuda implica.

O décimo primeiro capítulo mostra o quê a recuperação faz com essas mulheres,o depois, e como elas começam a alterar o seu comportamento e como isso implica em novas dificuldades ou em novas descobertas. 

O livro ainda traz um exemplo de como iniciar um grupo de apoio e algumas autodeclarações pra essas mulheres fazerem. 

Mulheres que ama demais é um livro que deixa muito em que se pensar: atitudes, relacionamentos, comportamentos familiares e de casais. O quanto um mínimo detalhe que parece banal, é tão comum e ao mesmo tempo tão doentio. Nossa sociedade influência esses comportamentos, quando em suas canções, falam sobre amores mal feitos e mulheres que agüentam de tudo pra ficar com seu homem, e vice-versa, as novelas, os filmes, tudo faz parecer que sofrer é amar e Norwood consegue mostrar em palavras simples, e de fácil entendimento o quanto essa cultura tem sido danosa para os relacionamentos e as famílias. Com ele fica mais fácil de entender por que certas pessoas agüentam tudo por amor.

* Norwood, Robin. “Mulheres que amam demais”. Tradução por Cristiane Perez Ribeiro. 28 ed. São Paulo: ARX,2005 – 303 pág.